Política e afins
*Pesquisas veiculadas na imprensa neste início de semana
apontam para o crescente ânimo de rejeição aos atos de protestos no Brasil. E
pensar que em junho e julho do ano passado a aceitação e adesão eram massivas.
As manifestações gigantescas encheram de civismo os brasileiros e fizeram
brotar uma pontinha de esperança nas reais mudanças para benefício do conjunto
da sociedade.
*O povo nas ruas cutucou o tigre com vara curta. Políticos
meteram o rabo por entre as pernas e governantes, em todos os quadrantes,
tiveram que tomar medidas à contra gosto, ainda que paliativas para acalmar o
clamor popular por gestão pública padrão Fifa.
*Melhorias na saúde, educação, transporte, segurança e ética
na política eram escancaradas em redes de televisão, ao vivo, para que todos
soubessem a pauta reivindicada. Alguns pleitos foram atendidos, minimamente.
*Mas, no meio do caminho vieram as pedras, a pancadaria e arruaçados
Black Blocs. Os manifestantes, em geral de classe média, motivados pelo desejo
de conquistas sociais e com boa dose de lirismo no novo jeito de expor
descontentamento, não reagiu estrategicamente para isolar os baderneiros. E o
caminho de casa foi o atalho mais curto para não se confundir com a turba de
malfeitores.
*Naturalmente, este equívoco político serviu para os
governos, de todas as matizes, respirar com alívio e encontrar meios de
“engambelamento” social. A rebeldia abriu espaços para o vandalismo dos sem
causas pontuais e, na rabeira, para a tranquilidade dos canalhas.
*E pensar que o Brasil pode ter perdido excelente
oportunidade histórica para fazer as reformas tão urgentes quanto
indispensáveis para o bem estar da Nação, especialmente para as gerações
futuras.
*Este ano teremos eleições para deputados estaduais,
federais, senadores, governadores e presidência da República. Tão certo como
dois adicionados a mais dois resultam em quatro, a eleição ou reeleição de
calhordas será inevitável. O gigante despertou e andou poucos passos. Parou,
aturdido pelas bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e pedras da
bandidagem. Resolveu tirar uma soneca e não voltou aos movimentos
estremecedores.
*Tudo, então, está perdido? Claro que não. Ao menos a
esperança na está perdida. Basta prestar minimamente a atenção nos noticiários
a respeito do que ocorre em outras partes do mundo. Desde a América Latina até o Leste Europeu
emergem levantes com pautas semelhantes àquelas que mobilizaram multidões
verde-amarelas em 2013.
* Só para voltar ao tema dos calhordas, que logo mais virão
pedir votos para os seus projetos pessoais e do poder, é bem verdade que nenhum
deles chegar a lugar algum sem a delegação do voto. O que vale dizer que
calhorda também é o eleitor que destina o seu voto ao canalha. Este sim estará
representado.
*Todos os políticos e postulantes a tal são calhordas? Claríssimo
que não. Tem gente de boa índole e capazes de agir com retidão e ética na
política. Podem ser poucos, até, mas fazem toda a diferença. Tudo seria bem
pior sem a presença deles a bradar, mesmo que solitariamente, em nome da correção
e dos valores edificantes que devem alicerçar as sociedades sadias. Estes, sim,
representam àqueles que abominam a calhordice. Neles eu me sinto representado.
Nem tudo está perdido.